O mercado imobiliário português sofreu menos no primeiro semestre de 2020 do que outros setores da economia, nomeadamente o de turismo e o de hotelaria, ou mesmo o aéreo. O fecho das fronteiras preservou vidas e complicou a economia. Ainda assim vimos um crescimento modesto no valor do metro quadrado médio dos imóveis, apesar da redução no número de transações.
Talvez esta seja a altura de ingressar neste mercado e a dúvida que se apresenta é: devo comprar ou arrendar um imóvel? Quais são as vantagens em cada uma destas opções?
Existem defensores em ambas as opções. O nosso objetivo aqui será apresentar 4 argumentos válidos para cada uma delas:
1) Facilidade de deslocação – em casos de mudança de País, cidade ou mesmo emprego, não estar comprometido com um financiamento imobiliário, ou mesmo com uma casa pode ser uma vantagem. Simplesmente faz-se a mala sem grandes preocupações e muda-se de vida. Para quem possui imóvel próprio deve-se pensar em arrendamento ou venda e isso pode gerar preocupações
extras.
2) Ausência de custos com manutenção predial – como se sabe, os custos com manutenção do imóvel recai sobre o proprietário e não sobre o inquilino. Dessa forma, se rebentar um cano, se houver infiltração ou se for necessária qualquer intervenção estrutural, o inquilino não tem qualquer custo envolvido.
3) Ausência de custos com impostos, escritura, etc – quando se adquire um imóvel, também os impostos relativos à compra, bem como custos com escritura e registo, além do imposto anual é suportado pelo proprietário.
4) Imóvel próprio não é ativo – no mercado financeiro há uma separação entre ativos e passivos. Basicamente, os ativos são os produtos que geram receitas, enquanto que passivos são produtos que geram despesa. Deste modo, se o objetivo for adquirir um imóvel para viver, certamente vai gerar despesa. Se a aquisição for para arrendamento, então ele se torna um ativo, pois gera receita, ou renda.
Mas há bons argumentos para se adquirir um imóvel para viver:
1) Construção de patrimônio – a casa própria é sem dúvida, um património sólido. Ainda que leve 30 anos para ser completamente seu, chegar à época da reforma sem ter a preocupação de onde morar, ou sem ter a maior despesa de sempre do orçamento familiar é sem dúvida, um alívio. E por mais que o imóvel gere manutenção ao longo do tempo, ele também se valoriza. E nos últimos 5 anos a valorização foi expressiva. Claro que a velocidade de valorização depende de uma série de fatores, muitas vezes externas, como por exemplo a construção de uma praça ou de uma estação de metro, ou mesmo de um
shopping etc. Mas o facto é que a tendência é de valorização ao longo do tempo. Resta saber se vale ou não a pena estar de fora…
2) Custo do crédito habitação barato – estamos numa altura em que o crédito habitação (para quem vai financiar) está barato. Consegue-se dinheiro emprestado no banco pagando-se entre 1,0% e 1,5% ao ano; isto porque a maioria dos créditos habitacionais estão vinculados a uma composição de taxas fixas e variáveis. Como a EURIBOR (taxa variável) está negativa, basicamente paga-se pelo spread bancário. Mas atenção: nem sempre foi assim e não há garantias de que sempre será assim. Já na renda se paga usualmente 6,0% ao ano do valor do imóvel.
3) Possibilidade de fazer alterações – mesmo havendo um crédito habitação, o imóvel é seu, daí haver a liberdade de fazer as alterações que julgar interessantes (sejam necessárias ou estéticas) sem ter de dar satisfação ao senhorio ou sem prazo para retornar ao padrão inicial porque terá que entregar o imóvel. Claro que se estivermos a falar de um condomínio deve-se cumprir as regras pré-estabelecidas. Mas a grande verdade é que podemos “dar a nossa cara” ao imóvel, trazendo-nos grande satisfação. Este é o típico investimento em qualidade de vida.
4) Parar de pagar pelo que é do outro – a renda é uma troca – dá-se dinheiro em troca de um teto. Uma pessoa que pague renda por 20 anos, ao final deste prazo, nada tem a não ser a sensação de que auxiliou na construção de património ou na melhoria de vida de outra pessoa. Pode até parecer ingratidão, mas eu diria que é mais uma constatação.
Estes poucos argumentos a favor de arrendar e de comprar não esgotam o assunto, em definitivo, mas servem de parâmetro para começar a pensar no assunto. Eu sou suspeito para falar porque moro em habitação própria e trabalho no mercado imobiliário, ou seja, entendo que a compra é a melhor opção. E não só para viver, mas também como investimento.